sábado, 12 de fevereiro de 2011

Elogio à loucura I



Como uma onda, arrasta a sanidade do controle.
Se apodera aos poucos dos gestos e deixa, de longe, uma voz gritar desesperada pela volta daquilo que se perde, como se algo queimasse num fogo purpúreo, dilacerante.
Sabe-se, por certo, que a regeneração é longa. O devastamento tem sua herança confirmada pelas consequências do que se fez.

E queria fazer?
Não, mas fui apoderada.
E não se controlou?

Ora, do que se trata o controle? E quem o tem de fato? Talvez faltassem-me medicamentos periódicos, ou mesmo revistas, talvez, que acalmassem o ânimo retraído, enjaulado metodicamente.

Mas já foi. Há de se consolar com provérbios de leite derramado. Os otimistas, e tento o ser, convencem-se do foi melhor assim, do aprendizado eterno de vida, das melhoras a serem feitas.

E quando tudo se aquieta e o verde volta a crescer....
....O fogo vem e queima a pele em carne viva.

Até que a carne se esvai.
O verde se esvai
O carvão também.

E sobra, soberana, a loucura. Gargalhando, desesperadamente, a nova vitória.
A voz se cessa. Perde-se o tempo. E tudo gira, gira, gira...


Hieronymus Bosch - The Garden of Earthly Delights - Hell