sexta-feira, 15 de junho de 2018

Expectativas x realidade na gestação (e na vida): despreendimento para o possível.

 


Mãe Solo (@maesolo_oficial)

 

A expectativa era escrever muitos textos, os quais eu leria no futuro e ficaria tocada pensando “que momento mais lindo e fértil da minha vida”. Escreveria textos aqui, de cunho político-reflexivo, falando sobre direitos das mulheres, feminismo, saúde pública, violência obstétrica, e também textos mais intimistas na minha mandala lunar 2018, com desenhos, impressões e até algumas colagens, quem sabe.

Também tiraria fotos semanais que mostrariam a linda evolução da minha barriga. Minha pele estaria viçosa, meu cabelo brilhante. Teria uma doula de confiança que viraria minha BFF. Conseguiria organizar minha agenda pessoal para ver todos os meus amigos gradualmente, marcando saídas para aproveitar a vida adulta sem filhos. Além disso, leria todos os 85.983 livros de maternidade, parto e empoderamento feminino para me sentir segura das minhas escolhas e nas horas vagas bordaria um lindo móbile para o meu nenê.

A realidade é que estou com 28 semanas, começando a ficar incomodada real com a listinha de tarefas que não para de crescer e apenas tentando lidar com o fato de às 22h eu já estar babando em cima de qualquer superfície que não se mova muito (incluindo meu marido). Passei quatro meses vomitando todos os dias, sem nenhuma energia de viver, e os dias seguem com muito sono e preguiça, uma imunidade bem vacilante que me atribuiu algumas licenças médicas e uma azia que faz me ter consciência de todo o percurso da comida desde sua ingestão.

De qualquer forma, apesar de querer ser um elefante para ter uns 13 meses extras de gestação e poder pelo menos organizar as roupinhas que ainda não tem lugar próprio e estão socadas no meio das minhas próprias roupas, estou encarando essa frustração total de expectativas como um ensaio para a maternidade e um grande aprendizado.

Todos os textinhos engraçados (ou não tão engraçados assim) que vem seguidos de #maternidadereal indicam que não será fácil, que vai piorar, que a vida que eu conheço vai basicamente acabar e eu vou ter que me reinventar mesmo. O bagulho vai ser louco. A dica que fica é: melhor eu não ter tantas expectativas assim em cima da minha listinha de tarefas ou, melhor ainda, melhor eu REPENSAR a minha listinha de tarefas.

Muitas vezes criamos necessidades, obrigações e expectativas totalmente sem sentido para nossas vidas por pressão social ou falta de questionamento. No caso da maternidade, um exemplo simples são as listas de enxoval do bebê. Vocês já viram as listas de enxoval que publicam por aí? De repente, recomendam estocar creme anti assadura sem nem saber se o bebê terá assaduras efetivamente. Ou comprar mamadeiras, caso o bebê não pegue o peito direito. Começamos a considerar a hipótese de comprar uma cômoda que não cabe em casa, carrinho que se teletransporta, babá eletrônica que faz seu filho ninar, fora os itens de higiene do tipo “shampoo e condicionador”, “colônia”, super necessários para um recém-nascido.

As necessidades e expectativas que criamos não precisam ser tão populares, podem ser também “alternativas” como as que eu mesmo tinha: ter um diário maternidade super completo, fazer tinturas de ervas e sabonetes naturais, estudar óleos essenciais bons para o parto, por exemplo. De qualquer forma, seja ensaio gestante, lembrancinhas de nascimento, ou estudos montessorianos, quando você se desprende dessas obrigações sociais, comerciais e também internas, as coisas ficam mais leves e passam a fazer mais sentido.

Esse processo de desprendimento tem sido de um aprendizado difícil de mensurar. Não se trata só da maternidade em si, mas do processo de olhar para dentro e tentar repensar verdadeiramente suas necessidades e limitações, baixar as expectativas e viver de maneira mais real e intuitiva. Não precisa estar gestando para tanto. Os hormônios, o cansaço e tantas mudanças podem ajudar no processo, mas essa busca por uma vida mais íntegra pode e deveria ser diária.

Também não estou falando que precisa ser radical e largar tudo ao acaso. Mas tudo bem se não der certo fazer o álbum da evolução da barriga semanal. Ok, também, se tiver que trocar o nenê na cama. A única coisa que o bebê vai querer e realmente precisar é aconchego, leite, colo e umas fraldas limpas. Não dá pra planejar tudo. Não dá pra fazer todo o planejado também... E está tudo bem, não é mesmo? Na vida, com ou sem bebê, está tudo bem. Pelo menos, esse tem sido o meu mantra.

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