Mãe Solo (@maesolo_oficial) |
A expectativa era escrever muitos textos, os quais eu leria
no futuro e ficaria tocada pensando “que momento mais lindo e fértil da minha
vida”. Escreveria textos aqui, de cunho político-reflexivo, falando sobre
direitos das mulheres, feminismo, saúde pública, violência obstétrica, e também
textos mais intimistas na minha mandala lunar 2018, com desenhos, impressões e
até algumas colagens, quem sabe.
Também tiraria fotos semanais que mostrariam a linda
evolução da minha barriga. Minha pele estaria viçosa, meu cabelo brilhante.
Teria uma doula de confiança que viraria minha BFF. Conseguiria organizar minha
agenda pessoal para ver todos os meus amigos gradualmente, marcando saídas para
aproveitar a vida adulta sem filhos. Além disso, leria todos os 85.983 livros
de maternidade, parto e empoderamento feminino para me sentir segura das minhas
escolhas e nas horas vagas bordaria um lindo móbile para o meu nenê.
A realidade é que estou com 28 semanas, começando a ficar
incomodada real com a listinha de tarefas que não para de crescer e apenas
tentando lidar com o fato de às 22h eu já estar babando em cima de qualquer
superfície que não se mova muito (incluindo meu marido). Passei quatro meses
vomitando todos os dias, sem nenhuma energia de viver, e os dias seguem com
muito sono e preguiça, uma imunidade bem vacilante que me atribuiu algumas
licenças médicas e uma azia que faz me ter consciência de todo o percurso da
comida desde sua ingestão.
De qualquer forma, apesar de querer ser um elefante para
ter uns 13 meses extras de gestação e poder pelo menos organizar as roupinhas
que ainda não tem lugar próprio e estão socadas no meio das minhas próprias
roupas, estou encarando essa frustração total de expectativas como um ensaio
para a maternidade e um grande aprendizado.
Todos os textinhos engraçados (ou não tão engraçados assim)
que vem seguidos de #maternidadereal indicam que não será fácil, que vai
piorar, que a vida que eu conheço vai basicamente acabar e eu vou ter que me
reinventar mesmo. O bagulho vai ser louco. A dica que fica é: melhor eu não ter
tantas expectativas assim em cima da minha listinha de tarefas ou, melhor
ainda, melhor eu
REPENSAR a minha listinha de tarefas.
Muitas vezes criamos necessidades, obrigações e
expectativas totalmente sem sentido para nossas vidas por pressão social ou
falta de questionamento. No caso da maternidade, um exemplo simples são as
listas de enxoval do bebê. Vocês já viram as listas de enxoval que publicam por
aí? De repente, recomendam estocar creme anti assadura sem nem saber se o bebê
terá assaduras efetivamente. Ou comprar mamadeiras, caso o bebê não pegue o
peito direito. Começamos a considerar a hipótese de comprar uma cômoda que não
cabe em casa, carrinho que se teletransporta, babá eletrônica que faz seu filho
ninar, fora os itens de higiene do tipo “shampoo e condicionador”, “colônia”,
super necessários para um recém-nascido.
As necessidades e expectativas que criamos não precisam ser
tão populares, podem ser também “alternativas” como as que eu mesmo tinha: ter
um diário maternidade super completo, fazer tinturas de ervas e sabonetes
naturais, estudar óleos essenciais bons para o parto, por exemplo. De qualquer
forma, seja ensaio gestante, lembrancinhas de nascimento, ou estudos montessorianos,
quando você se desprende dessas obrigações sociais, comerciais e também
internas, as coisas ficam mais leves e passam a fazer mais sentido.
Esse processo de desprendimento tem sido de um aprendizado
difícil de mensurar. Não se trata só da maternidade em si, mas do processo de
olhar para dentro e tentar repensar verdadeiramente suas necessidades e
limitações, baixar as expectativas e viver de maneira mais real e intuitiva.
Não precisa estar gestando para tanto. Os hormônios, o cansaço e tantas mudanças
podem ajudar no processo, mas essa busca por uma vida mais íntegra pode e
deveria ser diária.
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