sexta-feira, 3 de dezembro de 2010


Estava tão cheia que era como oca. Não tinha espaço para o barulho do chacoalhar. Estava vedada, lotada de sentimentos de duas, três, quatro vidas. Para ela aquilo era viver. Como se a beliscassem a todo instante lembrando que estava lá. Não se deixava cair na inércia do morno, do regulamentado e buscava o que lhe cutucasse para um eterno acordar. E vivia.


Chegou um tempo, porém, que se viu tributável. As décadas passaram sem que percebesse e o sono veio dominar-lhe os pensamentos. Eram 10 da manhã e sabia que aquela perda era de vida. Questionava se era o fim, o início de um ciclo eterno, o abafar de sua cor. Viu-se esvaziar aos poucos. Estava tão oca que era como cheia. Tinha espaço para cinco, seis, sete vidas que analisava friamente com marca-textos e etiquetas, catalogando em blocos coloridos. E seguia.



M. C. Escher - Three Spheres II

2 comentários:

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Olá, Mariana. Como vai? Espero que bem. Você acaso recebeu o e-mail que lhe enviei? Se não recebeu, deixo o meu endereço aqui. É eduardo7frizzo@hotmail.com. Aguardo resposta. Até mais!

Fred Caju disse...

Muito bom por aqui. Cheguei por acaso graças às telas de Sônia Menna Barreto, vi Dalí e resolvi também passear em suas palavras, decidi então ficar.