segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Colagens


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A tão condenável fuga me atrai como luz, o inseto. A sensação de caridade desaparece em frações tão curtas que a luz se tornou estática diante da repulsiva sensação do nada ser diante daquilo que se é.
Amar o próximo. Amo-o quando não me atinge de maneira tão certeira e aguda, como faca em carne fresca. Com o amor-próprio ferido e toda minha (até então discutida) vaidade escorrida pelo buraco escancarado de pouca estima talhado com tanto esmero. A falta de vernáculo não me proporciona suficientes doses de bem-estar, dose esta que, como uma droga, vicia, e após seu fim derruba, com um soco forte e real, as ilusões formadas de um intelecto tão imaturo. Ajoelhada, recolho os cacos daquilo que um dia sonhei ser, e enxergo o reflexo do medo e a podridão de tudo que enunciei e ouvi, do toque doce e do abraço ensinado.
O desprendimento de todo tipo de mérito se faz como inseto em casca velha. Covarde, reapareço e me reergo diante de toda imensidão de aplausos. Não os mereço e sou logo comparada com furtivos olhares de pena.

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Num certo momento o sentido se extingue
como uma nuvem que se esvai...
Desvanece.
Todas as intenções,
ilusórias ou não,
ilustres ou não,
anulam-se em tristeza,
causando um mal-estar,
um enjôo,
por tudo aquilo que não foi
e que foi e que poderia ser.
A inércia assume o poder
e continuamos procurando
um fim.
(21 de Outubro de 2008)

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Odeio esse abafado ar de angústia eterna.
Antes assumir o desagrado com o mundo como o velho safado
que camuflar usando um sorriso civilizatório
(de dentes bem brancos,
cor de nata,
corroídos por ácido
até a invenção de um café fluoretado)
Escondendo, assassinamos aos poucos
a aflição que nos dá vida.
Cabisbaixos seguimos,
e apertamos em guardanapos,
bordas de livro,
papéis amarelados,
palavras despejadas para consolo
daquilo que jamais deveria ser consolado.
(4 de Setembro de 2008)

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E se fragmento-me em instantes, estes não têm volta. Então me perco aos poucos, a cada baque de razão ou irracionalidade que me apresentam um outro lado, uma outra face,
um novo sentimento e mais ilusões,
imaginações
palavra que relativiza até a relatividade.
E ainda não me decidi se acredito na cabeça
(e daí se abrem possibilidades)
ou nos olhos.
Mas sou tão míope
e talvez tão louca
(segundo meu histórico familiar)
que prefiro não acreditar em nada
e sigo assim
vivendo,
morrendo,
sentindo...
...sofrendo.
(31 de Agosto de 2008)

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Paul Klee - Burg und Sonne

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