quarta-feira, 14 de abril de 2010

I - da rua.


Quando você nasceu, minha filha, me deram o que comer. Tinha frango, peixe, carne...até porco se eu quisesse. E você nasceu assim, fininha, fininha. Me disseram que você não ia viver, não, minha filha. Mas eu tava tão feliz - a barriga cheia espanta a tristeza - que acreditei na sua vida. E você me deu o que comer durante todos esses anos. Eu e você, a gente ia se ajudando. Nunca mais comi tanto bicho num prato só, não, mas quando você era pequena, as pessoas tinham piedade, minha filha.
Agora, você tem uma criança na barriga. Benza Deus se for menina, minha filha, pra depois continuar com mais vida. Ela vai te dar o que comer, vai sim. Você vai dar o que comer pra ela também. O leite vai faltar nesse teu peito, um pouco culpa minha, dessa sua mãe que te deixou nascer assim, fininha. Mas, minha filha, ela é a prova viva dessa esperança, e quando nascer, você vai comer todos os bichos num prato só...

Só não esquece da sua mãe, minha filha, que já não tem mais como conseguir a piedade.


A pequena vendedora de frutas - Murillo


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