segunda-feira, 17 de maio de 2010

Despejos


I

Em retas linhas sigo sem sabe o que sentir acumulando desde já o desespero do incerto pouso em braços largos agasalhando-me do amor alheio que espero retribuir. O medo da frieza domina as miniaturas homéricas dos sentimentos que tenho dentro de mim congelando a mais quente brasa florescente-radioativa da paixão que tento reproduzir incansavelmente em palavras e gestos não interpretados da maneira certa por serem tão subjetivos intrínsecos ao meu ser. A morte dos 200 anos já perdeu seu efeito e as suposições não fazem mais sentindo deixando-se enquadrar em diálogos repetitivos para entender aquilo que não é meu o que nunca deveria ser entendido e sim ser guardado como relíquia numa caixinha incrustrada de rubis pontiagudos. O cristalino já se embaça o embaraço maior é todo meu em todas as áreas possíveis de se analisar confundo os mais analíticos e impassíveis divãs insaciada por aquilo que não sei descrever e brota rompendo as mais túrgidas células de um planta que viu o sangue correr. Da luz não vem meu alimento necessário e da sombra retiro o meu fechar de olhos forçado obrigando o meu eu a se retirar do externo caindo os sorrisos moldados um por um feitos em laborátorio. Como um embrião sem células tronco sou pequena e imoldável nascida para aquilo que nasci e que nunca descobri e desconfio que ninguém saiba mas sou minúscula não entendendo o forçar da felicidade tão ligado ao mundo que piso. Piso sem sapatos nos tacos empoeirados protegidos da friagem onde todo verme encontra seu túmulo. Recolho-os por piedade e faço de mim um cemitério daqueles inanimados e tento revivê-los da frustração que passaram. Derrotada enxergo-me verme e rastejo em busca de cemitérios novos mas quando percebo já suguei a força vital de tantos outros que morreram em minha memória.

II

Como gelo seco, que queima de um frio incessante. Que arde feito chama rígida de sentidos estáticos. Meus sentidos estáticos denunciam o mundo, fora de mim, como uma câmera de gás que queima o mundo que morre frio, duro feito pedra. Sendo carne venço-me em sentidos não decifráveis. E como cifra, traduzo o que sinto em palavras tão vagas e tão julgáveis. Assim, abro espaço para as temíveis críticas de cabeças ocas como a minha. Despejo então essa lava endurecida para esvaziar-me de mim. Aqueço ao saber que meu rastro está traçado em vão e percebo a invalidez da vida. Como em programas de adolescentes, finjo ser grande e madura. Como fruto preste a apodrecer ao lado dos tantos outros que caiu feito pedra, duro, frio. Minha câmera frigorífica me impede de cair, então vivo imatura e verde, feito e.t. Meus códigos já se venderam para um mundo que inventei. Eu mesmo quem fiz a troca, em que fui o prejuízo. Ao despejar combino as palavras em tons legíveis para qualquer outrem ler. E ao ler, me perco em lembranças inventadas e terceirizo-me, como couro e carne. Fui consumida por tantos outros que não conheço e exibo o couro estampado. Cansei.


Narciso - Caravaggio


Um comentário:

Gian disse...

Gosto dos seus textos, Mari.