quarta-feira, 5 de maio de 2010

Vida




















É câncer,
mas veio do amor.
Se instalou assim, devagarzinho no colo possuído
e dominou tudo... Quanto amor!
Foi a expressão máxima da dicotomia,
que realizou toda sua dialética
num jogo de vida e morte.

Mas sem isso
não teria nada.
Sem dor não se sente o amor
tá tudo contraposto num atrito sem fim
numa dependência eterna.

E quando findar
que não se acabe tudo
a cicatriz perpetua a dor,
e vai mantendo o amor
E quanto amor!
Vão te tirar esse câncer
vão arrancar tudo, sim
mas não deixe arrancarem o amor
este já dominou tudo
numa metástase sem volta.

Sem a morte, a vida não existiria
viva, menina, toda essa sua loucura transbordante
todas suas dúvidas elucidantes,
toda vida que te existir.
A dor que te vier, viva como se fosse a mais profunda
pois daí só pode sair felicidade
Sai sorrateira iluminando toda fresta que lhe mostrarem
inundando todo seco, afogando toda escuridão.

Acredita
você tem tudo pela frente
e não é agora que vai acabar, não
a vida está aí
te mostrando as dores para você se apoiar
e poder desfrutar uma monstruosa alegria

uma eterna paz.


Árvore da Esperança - Frida Kahlo

2 comentários:

Naira J. T. disse...

ainda não terminaram de tirar o meu câncer... procedimento delicado esse 0.0

Mário disse...

Rock´n´roll, Mari.
Texto pesado, como outros seus, mas a vida é pesada ou leve?
E o esquecimento é uma força, nunca se esqueça disso. Ainda que esquecer uma dor não seja necessariamente igual a dizer a apagá-la de nossas almas.

Tem um livro, acho que até comentei com vc, que talvez você goste:
"Lete - a arte e crítica do esquecimento" de Warald Weinrich, pela Civ. Brasileira...

É isso, parabéns por todos os textos são muito vivos!

Beijo