quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Abraços continuados (Entre-nós)


Chegou com medo de voar e uma curiosidade que já considerada nata. Sentia-se segura, porém, já que tinha mãos para segurar nos momentos de turbulências quaisquer. Era tudo lindo, e com óculos de turista viu a cidade que chorava em luto. Tentou capturar todos os momentos com fotografias invisíveis que eram registradas na eterna lembrança. Era colorida. Azul, amarela, branca, rosa... Tinha cheiro, cheiro de boas vindas, de revelação. Estava viva.

Ao conhecê-lo, sua timidez era tamanha que balbuciou poucas palavras. Foi assim pelos dias que se passaram. Reconheceram-se, porém, pelo olhar. Os que entornavam eram de uma lealdade infindável. Aquilo não tinha fronteiras, a amizade. Nenhuma língua ou sotaque foi capaz de impedir o entendimento. O olhar bastava. A vontade bastava. A alegria bastava, assim como o sentimento de vida. Estava vivo.

O companheirismo mostrou-se logo e rapidamente construíram-se as ideias da esperança. Não havia censuras e o acolhimento foi completo. Entenderam-se os dizeres, por ora tácitos, pois a comunhão era real. Reinava, soberano, o apetite de mudar, de amar, de viver. Não existe construção vazia em meio tão fecundo. Em papéis coloridos despejaram-se os desejos, em jornais, as lembranças. Muita cor, nas paredes da sala, nos olhares trocados, nos livros espalhados, nas cidades internas. Estavam vivos.

Toda a vida foi pintada nos poemas, nas músicas, na dança, nos abraços e em beijos de cabarés.

Acostumou-se cedo demais, e num piscar de olhos, viu-se de malas prontas. Não era mais a mesma. Despediu-se silenciosamente das cores que lhe marcaram. Silente, viu-se cheia de nós. Nós que nos ligam das diferentes partes desse mundo. Chegou repleta de fios invisíveis, todos agora estendidos. A esperança completava a saudade. Queria dançar o tango que não vira, escorrendo de paixão, harmonia e vida. Estava cheia e sentia, feliz.


Pariendo utopías - Alejandro Costas


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